Carta para Sofia (do mundo de Sofia)

Cara Sofia,
eu seu que te explicaram sobre a história do pêlo do coelho. Quando estamos bem na pontinha, temos a capacidade de ver o todo e se surpreender com as coisas novas com o olhar de uma criança e quando estamos em baixo vemos como muitos adultos, nos perdemos entre tantos pêlos e não nos surpreendemos com mais nada. Quando li isso pela primeira vez, prometi para mim mesma que não seria como os adultos ranzinzas que reclamam de tudo, que não conseguem observar as coisas boas da vida. Pois é, mas o tempo passa e acho que criamos uma "casca" (cada vez mais grossa) - aquela a que você se referia e que quando adolescente eu não a enxergava. Confesso que tenho um pouco de medo. O tempo passa e cada vez mais perco a fé nas pessoas. Isso é péssimo, pois faz com que eu me abra cada vez menos, deixe de ser uma pessoa sincera e que tenha a capacidade de confiar. A verdade é que sei que existem pessoas em que podemos confiar, mas as dificuldades da vida fazem com que eu deixe de confiar nelas. Pelo menos é o que vem acontecendo comigo e isso me entristece. Você está me entendendo? Brás Cubas tinha razão em alguns pontos. O pessimismo na época em que o conheci não faziam sentido, mas hoje entendo a desilusão dele diante da humanidade. Enfim, Sofia, gostaria que soubesse que me esforço, mas infelizmente está sendo difícil, muito difícil e doloroso, pois cada vez mais chego a conclusão que existem mais pessoas má intencionadas do que eu imaginava. Mesmo assim, não quero que você perca a esperança.